sexta-feira, fevereiro 27, 2015

Nós somos apenas um conjunto de corpos... e alguns de nós têm pénis



Depois de ver a sua primeira temporada, consigo perceber porque o relato intimista da vida de uma “atípica” família de classe média americana é tão impopular quanto premiada (ganhou, entre outros, o Globo de Ouro e o Satellite Award para a melhor série do ano). “Transparent” (Amazon) é uma série muito mais educativa do que de entretenimento.

O pai desta família, interpretado por um inacreditável Jeffrey Tambor (também recebeu um Globo de Ouro por este papel), decide, após algumas investidas no mesmo sentido no passado, transformar-se numa mulher... que continua a ter atracção por mulheres. Interpreto isto como sendo uma espécie de veneração suprema do mundo feminino, ao ponto de querer transformar-se (visualmente, sobretudo) numa mulher. É aqui que se aprende a diferença entre identidade sexual e identidade de género. No entanto, a complexidade desta personagem não se fica por aqui, aliás, a complexidade da vida íntima acaba por ser um facto comum aos seus três filhos.

Estamos perante uma série que desafia as noções mais básicas do que é um género, ou melhor, como os órgãos sexuais e os cromossomas acabam por ser insuficientes para qualificar um género. É aqui que se aprende e celebra a ideia de que somos todos, acima de todas e quaisquer outras catalogações, seres humanos. Como alguém diz lá pelo meio: “We’re just a bunch of bodies... and some of us have penis”.

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